Um “playback” na cerimónia inaugural, encenação digital no fogo-de-artifício, controlo meteorológico ou ginastas sem idade suficiente para competir são apenas algumas das fabricações olímpicas criadas pela China para mostrar ao Mundo uns Jogos Olímpicos impecáveis.
Milhões de espectadores por todo o Mundo assistiram ao espectáculo inédito que marcou o arranque dos Jogos, mas, dias depois do início perfeito, a magia chinesa começou a perder o encanto.
A ordem do governo chinês era clara: a pequena cantora tinha que ser “perfeita”, por isso a menina fotogénica que encantou o Mundo a entoar Ode to Motherland na festa de abertura fez “playback” para esconder o sorriso desalinhado da verdadeira cantora.
“Yang Peiyi falhou a selecção [para aparecer na cerimónia] devido ao seu aspecto. Foi pelo interesse nacional“, explicou Chen Qigang, director musical do espectáculo, confirmando o “playback” na televisão estatal chinesa.
A série de fogo-de-artifício com forma de pegadas que iluminou a noite de Pequim para mostrar o caminho até ao Estádio Nacional - Ninho do Pássaro - foi uma encenação tecnológica, e o jornal Beijing Times foi o primeiro a confirmar a técnica utilizada.
A poluição e o nevoeiro de Pequim não iriam permitir uma visualização perfeita da cerimónia, e seria demasiado perigoso permitir uma filmagem aérea, o que justificou a encenação, explicou Gao Xiaolong, responsável pelos efeitos visuais da cerimónia.
Durante os JO, as autoridades chinesas substituiíram o nevoeiro por uma “neblina”.
Para afastarem a densa camada de poluição que envolve Pequim e dar a imagem de uma capital limpa, as autoridades chinesas mandaram fechar fábricas, limitaram a circulação automóvel e controlaram a meteorologia para conseguirem alguns dias olímpicos de céu azul e sol.
Pequim já tinha pintado a relva da capital com tinta verde quando, em 2001, a cidade foi examinada pelo Comité Olímpico Internacional como candidata à Organização dos Jogos.
A liberdade de expressão foi mais um simulacro. A China definiu três zonas para a realização de protestos olímpicos, mas embargou todos os pedidos de autorização (77 candidaturas) para manifestações durante os Jogos, silenciando qualquer voz dissidente que prejudicasse “os interesses nacionais”.
Alguns dos activistas que cumpriram a lei chinesa e apresentaram pedidos para a realização de protestos, estão presos e outros sob vigilância.
“A definição dos lugares de protesto foi uma brincadeira”, afirmou à Lusa Wang Xiao Feng, um conhecuido jornalista chinês, “porque o governo não iria suportar protestos”.
A par das espectaculares instalações olímpicas, várias paredes de informação cultural e publicitária foram erguidas na capital chinesa para esconderem os bairros mais pobres dos olhares dos visitantes estrangeiros que vinham visitar a cidade anfitriã, moderna e harmoniosa.
As hospedeiras chinesas que entregam as medalhas olímpicas e dão assistência aos visitantes foram criteriosamente seleccionadas e treinadas para sorrir, “pela honra da China”.
A equipa chinesa de ginástica conquistou a medalha de ouro com a ajuda de uma pequena atleta que, segundo a própria imprensa estatal chinesa, tinha apenas 13 anos há nove meses.
Actualmente, o passaporte chinês da jovem prova que ela tem 16 anos, a idade mínima para competir nos Jogos, facto estranho que nem as autoridades chinesas comentam nem o Comité Olímpico Internacional investigou.
Tudo em prol do “interesse nacional”, foi assim que a China justificou as falsificações e truques olímpicos que encenaram os Jogos aparentemente livres de erros ou imperfeições.
Em declarações recentes à imprensa chinesa, Zhang Yimou, director artístico das cerimónias de abertura e encerramento, notou que seria impossível organizar num país ocidental uma cerimónia com a sincronização e espectacularidade que a China mostrou na festa inaugural, devido à existência de sindicatos, regulamentos e de fraco espírito de sacrifício artístico.
“Os estrangeiros admiram isto. Este é o espírito chinês. Conseguimos fazer com que o nosso desempenho alcance um nível elevado através de um trabalho duro e esperto. Isto é algo que muitos estrangeiros não conseguem alcançar”, referiu à imprensa Zhang.
Nos Jogos chineses o feitiço não se vira contra o feiticeiro: A competição terminou e a China venceu a corrida ao “ouro”, indiferente às críticas e convencida de que os Jogos de Pequim vão ficar na história como o momento de abertura da China ao Mundo, mesmo que essa abertura seja apenas mais uma ilusão.
in Lusa
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